domingo, 6 de dezembro de 2009

Os filhos que eu queria ter, eu os tive.




A poesia de Vinicius de Moraes1 se revestia de profundo realismo quando enfocava sentimentos humanos. Essa característica está presente tanto quando ele trata da tristeza da solidão, do abandono e morte, que é o caso de Um Homem Chamado Alfredo; a quando ele se refere à vida, à esperança e ao sonho, que é o caso de O Filho Que Eu Quero Ter, ambas da parceria com o violonista e compositor Antonio Pecci Filho, o Toquinho.


O Filho Que Eu Quero Ter reflete um desejo de Toquinho confidenciado a Vinícius na praia de Boa Viagem (PE), em meio a uma temporada de shows. Toquinho, conforme João Carlos Pecci, já vinha pensando sobre o assunto e compôs inclusive um tema. Nesse dia, Toquinho, emocionado, revelou ao Poetinha o desejo. Em seguida entregou-lhe o tema musical e foi para a praia.


Vinicius sofreu para escrever a letra. Não um sofrimento relacionado à dificuldade de fazê-la, mas à emoção, ao enternecimento, à comoção. Ele se condoeu verdadeira e profundamente com aquele justo desejo e, em lágrimas, compôs a letra.


Ao final da tarde, quando Toquinho retornou, o encontrou em prantos, com a letra da música nas mãos. A profusão de sentimentos e de emoções que permeou essas duas almas criativas e amorosas nesse momento é inenarrável.


Um dos depoimentos mais determinantes sobre essa canção foi feito, no citado livro, pelo designer Elifas Andreatto: “Quando ouvi O Filho Que Eu Quero Ter revoguei minha decisão de jamais ter filhos (...) Meus filhos nasceram inspirados na música e deram sentido a todos os meus desenhos”.


A obra traz ainda o depoimento de Toquinho afirmando que: “Essa música contém uma magia que emociona. Possui uma melodia quase infantil, uma espécie de moldura para a idéia da letra”.


Sem dúvida, O Filho Que Eu Quero Ter é uma das mais comoventes canções criadas pela dupla. Qualquer pessoa, tendo filho ou não, com um mínimo de sensibilidade se emociona e chora com a imagem da espera, do acalanto, da transformação do menino em homem, o momento do derradeiro beijo, de cerrar os olhos do pai, ao final, com o desejo da continuidade.


O Filho Que Eu Quero Ter foi gravado, entre outros, por Chico Buarque no LP Sinal Fechado, de 1974.

Um comentário:

Roberta disse...

Com certeza vc tirou lágrimas minha com este post...muito bonito mesmo...