O Le Monde lembra que o Brasil possui poucos radares capazes de antecipar o risco de fortes chuvas , e que, apesar da Defesa Civil ter alertado as prefeituras sobre o perigo de inundações, os dirigentes locais não se preocuparam em prevenir a população, com poucas exceções.
O artigo do jornalista francês cita problemas estruturais de base, já conhecidos e analisados por especialistas e a imprensa brasileira, que impedem uma gestão eficaz das enchentes: crescimento urbano desordenado e construções de habitações em área de risco. Segundo dados oficiais, lembra o Le Monde, cinco milhões de pessoas vivem nessas regiões.
Na falta de uma rede de transporte coletivo eficiente, muitos trabalhadores se instalam como podem nas colinas, em barracos ou outros tipos de residências, perto do local de trabalho. O resultado é a destruição da mata ciliar, o acúmulo de esgoto e bueiros entupidos, que dificultam o escoamento da água e provocam as inundações.
Para o Le Monde, o governo foi negligente em todos os níveis: municipal, estadual e federal. "Por demagogia ou interesse eleitoral, as autoridades deixaram o concreto crescer nas colinas, e até mesmo estimularam a especulação imobiliária", diz o texto. O governo federal brasileiro, por sua vez, tem sua parcela de culpa por ter repassado aos municípios apenas 40% das verbas destinadas aos programas de prevenção de catástrofes naturais.
Em um documento enviado à ONU, o governo brasileiro admite, segundo o jornal francês, não ter implantado nenhuma medida para informar, educar ou alertar as comunidades em situação de risco. O consultor da ONU Guha Sapir, citado na coluna, afirma que Brasil não é capaz de administrar o único risco natural em seu território. "Imagine se existisse terremotos ou erupções vulcânicas no país?", questiona Sapir, resumindo seu raciocínio: "O Brasil não é Bangladesh. Não há desculpa."
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