segunda-feira, 4 de abril de 2011

Explosão de bueiro em Copacabana faz feridos e quase engole taxi.



Campo minado em Copacabana e no Centro do Rio

Bairros são os que representam maior risco de explosões em bueiros da Light. Nos últimos 15 meses, foi um acidente por mês

Rio - Na região apontada pela própria Light como de maior risco de explosões de bueiros, por onde estão espalhadas as câmaras subterrâneas sem manutenção, Centro e Copacabana podem ser considerados dois ‘vulcões’ prontos a entrar em erupção. São os bairros líderes em acidentes, que chegam a, pelo menos, um por mês. De janeiro de 2010 a abril deste ano, só de casos noticiados foram 15, entre estouros, curto-circuitos e fumaça. Desses, sete aconteceram no bairro da Zona Sul e seis no Centro. Os outros foram registrados em Ipanema e no Flamengo. 


Há 130 bueiros com risco de explosão, no Centro e na Zona Sul, segundo o presidente da concessionária de energia, Jerson Kelman. O plano de reparo dos bueiros, iniciado no meio do ano passado, será concluído até dezembro deste ano, diz a empresa. Mas o prefeito do Rio, Eduardo Paes, afirmou que uma empresa de auditoria será contratada para avaliar os procedimentos da concessionária.

Bueiro que explodiu na Av. Nossa Senhora na sexta-feira revelou risco em 130 outros | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia
SEGURANÇA DE ELETRICITÁRIOS


Os incidentes — o mais recente ocorrido sexta-feira, quando um bueiro explodiu na Av. Nª. Sª. de Copacabana, ferindo cinco — alarmam a população. Para evitar mais vítimas, o presidente da Sociedade Amigos de Copacabana, Horácio Magalhães, dará início a campanha pela Internet com orientações de segurança, recomendando, por exemplo, que moradores desviem de bueiros com fumaça. Horácio quer criar um canal com a Light para encaminhar queixas da vizinhança. 

Temendo ser a próxima vítima do ‘campo minado’ em que se transformou o bairro, a professora aposentada Rosa Andrade, 60 anos, caminha desviando dos bueiros e sempre atenta a fumaça e cheiro de queimado.“É uma preocupação constante, porque não temos como evitar ou fugir do problema. Tenho muito medo”, admitiu. Segurança da Rua Uruguaiana, no Centro, José Moacir, 49, aponta o grande fluxo de pessoas como agravante para acidentes. “Não daria tempo de correr e, se uma tampa voa, muitos ficariam feridos”, observa. 

O Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Energia do Rio se reúne hoje com os profissionais da rede subterrânea da Light para discutir condições de trabalho e riscos aos funcionários. Diretor do sindicato, Jorge de Oliveira Barbosa afirma que há diversos casos de funcionários feridos durante manutenção da rede. Ele lembra que parte da manutenção das câmaras foi feita por terceirizados, que, aos poucos, são substituídos pelo efetivo da Light.

Câmara terá audiência e TCU poderá fazer auditoria

O deputado federal Otávio Leite (PSDB-RJ) vai se reunir com integrantes da Comissão de Minas e Energia da Câmara para pedir que a Light e a Agência reguladora do setor (Aneel) sejam convocadas para audiência. “É nítido o agravamento na qualidade dos serviços de energia no Rio. Como se não bastassem os apagões, é inaceitável que a população corra risco com os bueiros”, justifica. 

Leite explica que vai pedir auditoria do Tribunal de Contas da União para identificar se as providências estão compatíveis com a solução do problema: “A Light informa que tem equipe de 147 pessoas na instalação de equipamentos que verificam vazamentos de gases para ação prévia que evite a explosão. Muito bem. Mas o cronograma tem que ser executado com urgência, nem que se convoquem profissionais de outros estados”.

Light e prefeitura podem ser acionadas na Justiça

Os feridos na explosão de sexta-feira ou em outros incidentes podem pedir indenização na Justiça. Presidente da Associação Nacional de Assistência ao Consumidor e Trabalhador (Anacont), José Roberto de Oliveira explica que é possível acionar tanto a Light, pela falta de manutenção, como a Prefeitura do Rio, por ausência de fiscalização, no Juizado Especial da Vara de Fazenda Pública. “É um juizado mais célere, e é possível acionar a Light e a Prefeitura em um só tribunal para causas de até 60 salários mínimos (R$ 32.700)”, explica ele. 

Oliveira esclarece ainda que a concessionária tem que prestar serviço eficiente. “Se deixa no meio da rua um equipamento como esse, nota-se que não há eficiência, o que leva à discussão do Código de Defesa do Consumidor. Todas as vítimas do buraco têm direito a indenização. O taxista ainda pode pedir lucro cessante, além do conserto do carro, em virtude de não trabalhar. A causa dele deve ser na vara cível, porque pode ultrapassar o limite de salários mínimos”, avalia. Segundo ele, ferimentos leves, que não geram dano efetivo, não devem chegar ao tribunal. “Mas, se houver lesão que prejudique a vida do ferido, a pessoa deve buscar a indenização”, recomenda.

Ex-funcionária diz que empresa não priorizou manutenção de segurança

Ex-funcionária da Light e atual diretora da Central de Trabalhadores do Brasil, Sônia Latgê diz que, desde a privatização, há 15 anos, a Light cortou 8 mil funcionários, terceirizou atendimento, supervalorizou a área comercial e subvalorizou a manutenção. “Algumas caixas subterrâneas são centenárias. Da Zona Sul ao Centro, há pontos de alto risco. Essas caixas podem sofrer infiltração e aquecer por sobrecarga”, explica. O problema foi apontado em relatório da Aneel após vistoria em novembro de 2009. 

“Precisamos saber qual a manutenção dessas caixas. Vamos recorrer à Alerj ou ao Crea-RJ. Antes, havia rotas diárias para manutenção. Mesmo se os cabos estivessem perfeitos, era preciso varrer e tirar a água. Tem ligação de gás natural ao lado e telefonia dentro. Explode ao contato com o gás”, adverte.

EXPLOSÕES

1º de abril de 2011 — Av. Nª. Sª. de Copacabana
22 de fevereiro de 2011 — Av. Pres. Vargas, Centro
14 de julho de 2010 — Rua Visconde de Pirajá, Ipanema
6 de julho de 2010 — R. Figueiredo Magalhães, Copa
29 de junho de 2010 — Casal de turistas americanos é gravemente ferido na R. República do Peru, Copa
5 de abril de 2010 — Av. Pres. Vargas, Centro
30 de março de 2010 — Rua do Ouvidor, Centro
9 de março de 2010 — Av. Presidente Vargas, Centro
8 de março de 2010 — Rua do Ouvidor, Centro
26 de fevereiro de 2010 — R. Santa Clara, Copa
25 de janeiro de 2010 — Av. Princesa Isabel, Copa 

TAMPA SOLTA
14 de setembro de 2010 — Rua Frei Caneca, Centro
29 de set. de 2010 — R. Honório de Barros, Flamengo

FUMAÇA 
27 de outubro de 2010 — Rua Rodolfo Dantas, Copa

CURTO-CIRCUITO
8 de outubro de 2010 — em Copacabana

Reportagem: Beatriz Salomão e Luciene Braga
Fonte: O Dia

Um comentário:

A. Kelper disse...

As explosoes de bueiros nao sao o unico problema. As ocorrencias de fogo e fumaça tambem demonstram que a rede estah com serios problemas.
Vejam mais informaçoes em: http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/08/20/especialista-diz-que-light-nao-investiga-explosoes-925172517.asp
e
http://www.aepet.org.br/site/debate_brasil/video_interna.php?videoID=407