"Cacildis", "só no forevis", "suco de cevadis". É praticamente impossível a qualquer pessoa que vivenciou as três décadas que antecederam o século XXI não conhecer essas frases, criadas e popularizadas por Antônio Carlos Bernardes Gomes, ou simplesmente Mussum, que completaria 70 anos nesta quinta-feira (7).
Nascido no Morro da Cachoeirinha, no Rio de Janeiro, o terceiro "trapalhão" morreu no dia 29 de julho de 1994, após seu corpo rejeitar um transplante de coração. Apelidado pelo lendário comediante Grande Otelo (1915 - 1993) com a justificativa de que o ator sumia de repente em suas conversas (muçum significa escorregadio), Gomes ficou famoso por suas interpretações na turma liderada por Didi Mocó (Renato Aragão), ao lado de Dedé Santana e, posteriormente, de Zacarias, falecido em 1990.
Músico, foi membro do grupo Os Originais do Samba antes de integrar a trupe, além de ter sido ajustador mecânico e membro da Força Aérea Brasileira durante oito anos.
Se não conheceu o boom tecnológico iniciado com a popularização da internet, Mussum se manteve como ícone da nova geração, mesmo daqueles que não tiveram a oportunidade de acompanhar sua brilhante e hilária carreira quando vivo. No Twitter, por exemplo, o perfl @mussumalive tem mais de 100 mil seguidores.
Também foi homenageado na época da campanha de Barack Obama para a presidência dos EUA, ocasião em que virou camiseta com sua figura adaptada a um dos posteres das eleições de 2008, sob o codinome "Obamis".
Carreira
Mussum começou a trabalhar em humorísticos nos anos 1960, ganhando destaque em 1969 no programa de Chico Anysio, que, segundo consta, deu a dica para o ator de origem humilde usar o sufixo "is" nas palavras que pronunciava.
Logo foi convidado por Wilton Franco, diretor de Os Adoráveis Trapalhões, na extinta TV Excelsior - mais tarde transferido à TV Record -, para integrar a trupe, convite inicialmente rechaçado pelo ator, que só o aceitou por insistência de Dedé Santana.
Personagem beberrão do quarteto, Mussum criou termos como "suco de cevadis", para designar cerveja, e "mé", relativo à cachaça. Quando entrava nos bares do palco, perguntava ao garçom: "tem leite de morcego?", e, com a negativa, bradava, "Deus é testemunha de que eu queria leite! Bota uma pinga aí!", para a alegria do público. Suas cantadas nas garotas figurantes também sempre incluíam o alcool como conteúdo - "te dou casa, comida, três milhão por mês, fora o bafo!", dizia, se referindo ao mau hálito de pinga.
O mais querido entre os personagens da série - batizada somente de Os Trapalhões quando migrou para a Rede Globo, em 1977 -, inventou também o termo "forévis" para designar bunda, palavra que caiu na boca do povo e até virou nome de disco (Só no Forévis, lançado em 1999 pela banda de rock Raimundos).
Numa época em que o politicamente correto era praticamente inexistente, Mussum era chamado pelos colegas em cena por apelidos como Urubu e Azulão, ato que seria considerado extremamente ofensivo nos dias de hoje. Único negro do quarteto, também utilizava frases, populares até hoje, com sua cor como referência, como "negro é teu passadis" e "quero morrer pretis se estiver mentindo".
No cinema
Foram 27 longas de ficção e documentários sobre os Trapalhões em suas mais de duas décadas no grupo. Entre eles, quatro ainda figuram entre as dez maiores bilheterias do cinema nacional de todos os tempos, comoO Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977), Os Saltimbancos Trapalhões (1981) e Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978).
Apaixonado pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, Gomes participava regularmente de seus ensaios, foi diretor harmônico da Ala das Baianas e chegou a ser apelidado de Mumu da Mangueira. Em 1969, gravou um disco com os Originais do Samba batizado de É a Lei. Mussum morreu apenas quatro anos depois de Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias, aos 53 anos de idade.
Fonte: Terra
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