sexta-feira, 3 de julho de 2009

Vivendo e aprendendo.

A vida está nos ensinando todo tempo. É uma lição a cada segundo. Mas de repente, esta lição vem intensa, nos emociona, nos abala, nos testa. Revela-se então toda nossa inexperiência diante desta profunda experiência que é nossa existência, repleta de fatos antagônicos, tão pequena e profunda ao mesmo tempo e tão densa de novidades quanto curta em sua duração.

A 2 dias nossa cadela, a Iris, com apenas 5 anos apresentou um problema neurológico. Em menos de 12 horas já não andava, tínhamos que alimentá-la com papinha na colher, dar água em sua boca, levantá-la para que pudesse fazer suas necessidades. Ficamos muito apreensivos e 24 horas depois ela começou a apresentar melhora.

Mas, infelizmente, poucas horas depois, quando fomos cuidar dela, já não estava mais viva. Foi um susto para mim, minha esposa e meus filhos, Gabriel e Pedro. Temendo que a tristeza fosse mais intensa para todos, tentei não chorar e ser firme. Mas ao lembrar que teria que carregar o corpo dela e levar para a clínica veterinária, não resisti e me entreguei às lembranças das brincadeiras, das travessuras e tantos momentos bons que vivemos. Dirigindo, não contive as lágrimas juntamente com minha esposa. Sonhei toda a noite, como um filme com todos os momentos que brinquei, chorei, briguei e cuidei dela. Acordei muito deprimido.

Mas ao sair de casa, passava à frente o pai de uma menina que ajudamos, levando ela ao hospital. Ela tinha tumor no cérebro, tão avançado que saia pelo olho direito. Ela morreu dentro de pouco tempo. Fiquei perguntando a Deus o que ele queria me dizer sobre perder alguém. Tentei sentir a dor daquele pai e me senti feliz, pois a saudade que sentia era infinitamente mais suportável do que a que ele sentiu. E o sofrimento daquela criança foi muito maior do que o que a Iris passou.

Me lembro que uma de suas travessuras foi quando começou a apresentar problemas intestinais e não sabíamos o porque. Até o dia que ela chegou até nós com uma “barba” de goiaba no rosto. Estava saltando a cerca do pomar no fundo de casa para apanhar os frutos que caiam da árvore.

Sentávamos à noite na sala de estar para ver TV. Ensinei a ela a ficar sempre em cima de um tapete. Ela ia puxando com as patas, arrastando o corpo, sempre em cima do tapete para chegar até perto de nós. E olhava como que dizendo: não reclamem, estou ainda em cima do tapete! Comíamos pipoca juntamente com ela e ríamos muito disso. Ela só engolia as que pegava no ar e rejeitava as que caiam no chão, não me explique o porque!

Esta raça de cão, Boxer, é muito interessante. Impõe respeito, guarda a casa, mas extremamente dócil e brincalhona. Quando nos vêem, a alegria é tal que se entortam andando formando um “U” com o corpo. Ficam com aquele olhar “pidão” de “me-faz-um-carinho”.... e adoram crianças!

Muitos nos têem como loucos por termos criado 3 boxers. Pra ser sincero, algumas horas é pesado, quando estamos cansados e temos que dar atenção a eles. Mas, quando analisava a situação, me sentia honrado pois, nunca me senti capaz de ter uma família. Cuidar de vidas me parecia muita responsabilidade, e ainda acho. Mas agradeço a Deus por ter me capacitado e me dado as ferramentas para cuidar não apenas dos meus, mas de 3 criaturas que precisam tanto de nós para sobreviver. Cuidar de vidas é minha vida! E que venham mais vidas!

Mas agora, me sinto mal em lembrar das broncas, das vezes que me estressei com a Iris, que fiquei com preguiça de dar carinho... normal! Mas espero que todos tenham por mim, quando eu partir, o mesmo sentimento que tento nutrir neste momento: me sentir honrado pela grande oportunidade de ter convivido com este ser, de ter dado o melhor de mim (por pior que seja) e ter recebido todo o carinho e atenção dela. Quando eu partir, quero que lembrem de mim como alguém que trouxe muita alegria e por isso sentirão saudades, mas uma saudade agradecida a Deus por nos ter colocado no mesmo caminho, mesmo que este caminho tenha sido curto.

Adeus e obrigado Iris!

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